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Navegação comercial deve ser inviabilizada pela terceira vez


Com chuvas insuficientes para garantir a cheia, escoamento da produção vai sobrecarregar as rodovias

 

Imprescindível para escoamento de cargas e redução de sobrecarga nas rodovias, a navegação comercial deve ser paralisada pelo terceiro ano consecutivo em Mato Grosso do Sul. Pela hidrovia do Rio Paraguai, o Estado envia principalmente cargas de minério de ferro e grãos de soja para outros estados e países.

Os dados da Marinha do Brasil apontam que nesta sexta-feira a régua em Ladário marcava 2,19 m, resultado melhor que nos últimos dois anos, porém muito abaixo da média esperada. Em Porto Murtinho, o rio está abaixo do nível registrado no mesmo período do ano passado.

E em Cáceres (MT), na cabeceira do rio, a régua está marcando 1,85 m, muito abaixo dos últimos anos. A previsão, conforme já publicado na edição do dia 2 de maio pelo Correio do Estado, é de que, apesar de registrar o melhor nível de água dos últimos três anos, o Rio Paraguai, na faixa que compreende Mato Grosso do Sul, não terá cheia pela terceira vez.

Os volumes baixos de chuva, principalmente na foz do Paraguai, e a consequente baixa do calado do rio tendem a inviabilizar a navegação. O professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Vinicius Capistrano aponta que o nível de 2,19 metros alcançados na régua de Ladário na sexta-feira ainda se encontra abaixo da mediana de referência, em 3,30 metros.

Embora a previsão aponte um aumento para as próximas quatro semanas, não será maior que 0,5 m.

“Com a mediana atual abaixo dos 3,30 m atrelada à redução sazonal das chuvas pela proximidade do inverno, é muito provável que a cota este ano em Ladário não chegue a 4,5 m, valor mediano máximo”.

As previsões do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec) apontam que o efeito La Niña reduz a ocorrência de chuvas.

“A previsão indica manutenção do La Ninã até maio [80%] e, provavelmente, influenciará nas condições de tempo no outono. Durante a atuação do La Niña, tende a ocorrer uma maior frequência de massas de ar frio. Sendo assim, as chuvas devem ficar abaixo da média climatológica para abril, maio e junho”, detalhou o Cemtec.

O gerente de operações portuárias da FV Cereais, terminal localizado em Porto Murtinho, Genivaldo Santos, diz que atualmente estão operando as barcaças normalmente.

“As barcaças estão operando com nove pés [2,7 metros] ou mais. Mas, com certeza, o rio vai baixar, e em algum momento a navegação será interrompida”, disse ao Correio do Estado.

 

IMPACTO

Relatório da Agência Nacional de Transportes Aquaviário (Antaq) aponta que se não fosse o período crítico de seca enfrentado nos últimos dois anos, o volume de cargas transportado pelas hidrovias seria maior.

Ainda que com a paralisação do transporte hidroviário, houve crescimento no volume movimentado nos períodos de operação em 2021.

“As instalações da região Centro-Oeste movimentaram 3,9 milhões de toneladas no período [2021] e, com isso, registraram crescimento de 25% em relação a 2020. O Terminal Privado da Granel Química, em Ladário [MS], que teve em parte sua operação afetada pela seca do Rio Paraguai, movimentou um milhão de toneladas no ano, aumento de 171,4% no comparativo”, aponta o relatório.

Já no início deste ano, conforme o relatório da Antaq, houve redução no envio de cargas nos portos do Estado. O porto da Granel Química registrou uma queda de 93% no volume embarcado (11.870 toneladas). No mesmo período em 2021 foram 171.721 toneladas.

O outro terminal da região, o Porto Gregório, que fica no município de Corumbá, teve redução de 41% no transporte de minério, com volume embarcado de 385.542 toneladas neste ano.

 

NAVEGAÇÃO

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Carlos Roberto Padovani disse que a tendência é de que o volume do Rio Paraguai em Ladário comece a reduzir daqui para frente.

“A relação do nível dos rios com o volume de chuvas nas terras é bem conhecida. Seria necessário que os volumes de chuva na porção de planalto da bacia, ao norte, voltassem aos valores observados antes do período de estiagem, que começou em 2020”, pontuou.

As estimativas são de que o fenômeno La Niña poderá se prolongar até 2023, postergando a estiagem por mais um ano, pelo menos.

Na época de inverno e de seca, entre os meses de junho e agosto, o ideal seria que o rio atingisse a marca dos 4,5 metros. O nível já chegou a superar cinco metros próximo de Corumbá.

Em setembro de 2021, o transporte hidroviário na bacia do Rio Paraguai foi suspenso.

O nível negativo em Ladário obrigou que o transporte de mais de três milhões de toneladas de minério fosse executado pelas rodovias, por um custo mais elevado e com impacto maior sobre as BRs que cortam o Estado.

A retomada da navegabilidade no Rio Paraguai só ocorreu em janeiro deste ano, quando o calado atingiu nível superior a sete pés (2,10 metros), elevação que permite navegação de 70% da capacidade de uma barcaça de 1.500 toneladas. (Com informações Jornal Correio do Estado).

 

 


Fonte: Jornal Correio do Estado