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ARTIGO: Morenão não pode ser um elefante branco, diz professor


 

Reportagem do Correio do Estado sobre o Estádio Pedro Pedrossian, conhecido como Morenão, localizado dentro do campus da UFMS, lamentavelmente nos mostra como anda um dos maiores patrimônios esportivos e arquitetônicos de MS. É mais um poço sem fundo de Campo Grande (recentemente escrevi sobre o Centro de Belas Artes). O termo “elefante branco” tem um enorme significado para o povo. Com origem na atual Tailândia, significa “coisa pouco prática, que causa grande incômodo; obra grande e pomposa sem serventia; tudo que serve para nada, mas custa caro para ser dispensado”.

O Estádio Morenão faz parte do complexo campus da UFMS dos anos 1960, obra do grande governador de MT Pedro Pedrossian. Segundo o plano diretor do campus e historiadores de Campo Grande, essa obra não fazia parte do projeto original. Tanto é verdade que a área foi adquirida durante as obras e o projeto foi entregue para os bambas da engenharia daqueles tempos. O projeto foi de Cyríaco Maymone Filho, já falecido, um grande profissional projetista, e o cálculo envolveu o engenheiro Baumgartner e Euclides de Oliveira.

O estádio para 40 mil pessoas, quando a cidade tinha umas 150 mil, era grandioso em tudo. Foi inaugurado em 7 de março de 1971 com o jogo Flamengo e Corinthians. Em 1978, com o jogo Operário 2 x 0 Palmeiras, o estádio bateu seu recorde de bilheteria: mais de 38 mil pessoas foram lá ver aquele jogo fantástico. Em 2014, chegou-se a fazer um superprojeto para colocar Campo Grande no mapa da Copa do Mundo, mas Cuiabá venceu a aposta e jogos mundiais foram para lá.

Essa foi a grande e última oportunidade de se revitalizar o Morenão e, desde bem antes, aquele lindo estádio dava seus sinais de fraqueza. Abrigando unidades administrativa da UFMS em seu andar térreo e com acesso externo, tudo foi se acomodando. Com o fechamento do Auto Cine, aquele canto da UFMS foi ficando largado, por tudo e por todos. O estacionamento para mais de 500 veículos é um vazio eterno.

Nos anos de 2010, fui convidado, como arquiteto e professor, pelo vice-reitor da UFMS, prof. João Ricardo Tognini, para coordenar um grupo de trabalho (GT) visando dar diretrizes para aquele estádio de futebol. Ouvimos todos, de dentro e de fora da UFMS. Um dos maiores problemas, que era o laboratório do prof. Gilson, da Arqueologia, já tinha encontrado seu espaço no prédio estadual do Memorial da Cultura. Os demais usos poderiam ser deslocados.

O setor de eventos estadual gostava da ideia de que o Morenão fosse o local de grandes eventos, gigantescos shows, isso brilhava nos olhos de todos. Mas havia um empecilho: o Morenão é público e federal. Qual a ideia, então? A UFMS promover um desmembramento de sua área, deixar o Morenão fora do campus e, com isso, poder fazer parcerias privadas com ou sem outorga. E ainda possibilitar na parceria a construção de espaços de uso múltiplo para a universidade usando o terreno do estacionamento, visando gerar empregos, renda e novos usos para o local e ainda ressarcir a UFMS com novos espaços educacionais e culturais.

O relatório final do GT que coordenei foi entregue, mas não teve seguimento por conta da velha conhecida burocracia. Afinal, tudo que é área federal é espaço para problemas. E assim segue o velho Morenão, com seus 53 anos de história e boas memórias, como um elefante branco de Campo Grande. Sem uso, manutenção e perspectiva. Eu, se fosse o reitor, retirava o nosso relatório das gavetas e colocava ele em prática. Pior do que está não pode ficar.

 

AUTOR: Ângelo Marcos Arruda – Arquiteto e professor aposentador da UFMS.

 

 

 


Fonte: Ângelo Marcos Arruda - Arquiteto e professor aposentado UFMS